Legado Puritano
Quando a Piedade Tinha o Poder
Textos
“seca-se a erva, e caem as flores, soprando nelas o hálito do SENHOR. Na verdade, o povo é erva;” (Isaías 40.7)


 
 
Por João Calvino
 
“Seca-se a erva”. Isso pode ser entendido como relacionado com a beleza dos campos, que é dizimada por uma única rajada de vento, como é dito no Salmo 103.16: “pois, soprando nela o vento, desaparece; e não conhecerá, daí em diante, o seu lugar."; pois sabemos que o vento é chamado de "o Espírito de Deus" em outras passagens. Mas estou mais inclinado a pensar que a metáfora é adaptada para o presente assunto; porque em outra forma a aplicação disto seria um tanto obscura. Por isso, o Profeta explica o objeto que ele tem em vista, dizendo que os homens, com toda a sua glória, nada mais são do que a erva; isto é, porque o Espírito de Deus vai rapidamente levá-los para longe por uma única respiração.
“Soprando nelas o hálito do SENHOR”. O significado pode ser explicado assim: "Embora sejam ilustres os dons com que os homens são dotados, mas assim que o Espírito de Deus soprar sobre eles, eles sentirão que eles nada são." Porque a falsa confiança com que se intoxicaram surge desta fonte, que eles não comparecem diante de Deus, mas, voluntariamente se inflaram. Para que eles não possam enganar a si mesmos com um tolo prazer em falsidade, o Profeta os conduz à presença de Deus, e admite que, aparentemente, eles floresciam, quando se encontravam afastados de Deus; mas assim que o Senhor soprou sobre eles, toda a sua força e beleza pereceu e decaiu.
Mas pode-se pensar que ele atribui ao "Espírito de Deus" um ofício que está grandemente em desacordo com a sua natureza; porque é inerente a ele "renovar pelo seu poder a face da terra." (Salmo 104.30). Por outro lado, se o Senhor retirar o seu Espírito, tudo é reduzido a nada. Aqui Isaías afirma que é extremamente o contrário, e parece contradizer Davi. Mas não há nenhum absurdo em dizer que todas as coisas são renovadas pelo poder do Espírito, e ainda, que o que antes parecia ser algo que está reduzido a nada; porque nós nada somos, senão em Deus, e, a fim de que possamos começar a ser algo nele, devemos primeiro ser convencidos, que somos vaidade. Por isso o Senhor sopra sobre nós, para que saibamos que de nós mesmos nada somos.
“Na verdade, o povo é erva”. O Profeta acrescentou isto, para que todos saibam que ele não estava falando de estrangeiros, mas de pessoas que glorificavam o nome de Deus; porque os judeus podem ter pensado que eles eram mais excelentes, e ocupavam uma posição mais elevada do que os outros homens, e que por esse motivo eles deveriam ser isentados da sorte comum. Ele, portanto, endereça isto expressamente e por nome, para que eles não possam reivindicar qualquer coisa para si em detrimento de outros; como se ele tivesse dito, que eles agiriam sabiamente se, através de uma convicção da sua pobreza, jogassem fora toda a confiança em si mesmos. Em uma palavra, o profeta, depois de ter mencionado a consolação, mostra de que forma os homens devem estar preparados para recebê-la; porque eles não são capazes disso até que sejam antes reduzidos a nada. Nossa dureza deve ser portanto suavizada, nossa arrogância deve ser derrubada, nossa glória deve ser envergonhada, e os nossos corações devem ser subjugados e humilhados, se quisermos receber qualquer vantagem das consolações que os profetas nos trazem pelo comando de Deus.
 
Traduzido e adaptado por Silvio Dutra.

 
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João Calvino
Enviado por Silvio Dutra Alves em 17/08/2014
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